Análise dos programas de Urbanismo e Urbanismo/Paisagismo
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Introdução</h3>
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Esta análise tem como objeto apenas as disciplinas da seqüência curricular do curso que contêm a denominação ou conteúdos de Urbanismo e Paisagismo, pois as optativas engajadas no núcleo de Urbanismo não estão necessariamente submetidas a uma seqüência curricular articulada verticalmente. O texto limita-se portanto à análise do conjunto, recorrendo a disciplinas mais relacionadas com ele, sem abordar mais amplamente as suas relações com outras disciplinas do curso. As proposições decorrem da intenção básica, e aparentemente consensual dos professores do núcleo, de reforçar a articulação dessas disciplinas, integrando-as num projeto pedagógico global.</p>
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Análise</h3>
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Os conteúdos temáticos das ementas das disciplinas troncais ensaiam certa articulação, cuja seqüência semestral permite a apreciação dos seus programas a partir do critério interativo. O propósito de privilegiar essa coerência resulta também da necessidade de evitar-se superposições de conteúdos e repetição de procedimentos, além da consideração tácita de manter-se o caráter evolutivo do aprendizado do estudante ao longo do curso. A seqüenciação, que parece reforçar-se no conteúdo das ementas, permite engajar as seguintes disciplinas no mesmo eixo vertical: Introdução ao Projeto de Arquitetura e do Urbanismo – 1a fase (da qual conhecemos somente a ementa), Projeto Arquitetônico e Paisagismo I – 2a fase (do núcleo de projeto), Urbanismo I – 4a fase, Urbanismo e Paisagismo II – 5a fase, Urbanismo e Paisagismo III – 6a fase, Urbanismo e Paisagismo IV – 7a fase, Urbanismo V – 8a fase. <br />
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Uma referência estrutural comum pode ser verificada nas ementas e programas dessas disciplinas revelando a forma comum teórico-prática. Os objetivos declarados nos programas reafirmam essa forma, sugerindo a intenção compartilhada de desenvolver-se no estudante a sua capacidade de observação, análise e proposição aplicada ao estudo e projeto de arquitetura na escala urbana, através da compreensão das problemáticas urbanas e da experimentação projetual. Dentre os pressupostos presumidos nessas formulações, percebe-se a intenção comum de incentivar-se no estudante a crítica e a avaliação dos modos de produção do espaço e de estimular a sua capacidade de experimentação e de exercício da criatividade. Os objetivos e os conteúdos programáticos parecem seguir essa estruturação e objetivos, embora as ementas não os afirmem explicitamente. <br />
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A análise do conjunto dos programas permite perceber-se o modo como foram adaptados ao texto das ementas, sem indício evidente de integração vertical de conteúdos e procedimentos. <br />
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Sente-se falta do programa da disciplina Introdução ao Projeto de Arquitetura e do Urbanismo, que dá início à seqüência e de Projeto Arquitetônico e Paisagismo I, cuja ementa tem relação com os conteúdos da seqüência, mas não pertence ao núcleo. <br />
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Ao apreciar as ementas sob a ótica de sua articulação vertical e coerência de conteúdos teóricos e práticos, topamos com a imprecisão dos termos utilizados, embora seja possível interpretar o conjunto de temas propostos, dando-lhes certa coerência, sobretudo se buscarmos destacar certas problemáticas sugeridas como objeto de estudo, relacionando-as com as propostas de exercício de intervenção espacial. <br />
Exemplos: Urb I – problemática da preservação do patrimônio construído com “projeto de reciclagem, renovação ou restauração”; Urb/Pais II – problemática da preservação ambiental com proposições de “intervenção espacial sobre segmento da paisagem urbana”, Urb/Pais III – problemática da renovação urbana (interpretada no programa como síntese das problemáticas anteriores) com projeto paisagístico de espaços públicos de uso coletivo, Urb/Pais IV – problemática do planejamento urbano com proposições de sistemas integrados de espaços públicos de uso coletivo, Urb V – problemática do desenvolvimento regional com proposição de sistemas integrados de equipamentos ou infraestruturas na escala micro-regional. As ementas das duas últimas sugerem uma abordagem do ponto de vista do planejamento e da gestão territorial, assim como a elaboração de “projetos estruturadores do espaço” nas escalas urbana e regional. <br />
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As disciplinas Urb/Pais III e Urb V permitem aos estudantes a escolha das áreas de estudo. <br />
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Sabemos que a correlação sugerida entre os conteúdos teóricos e a experimentação projetual nem sempre é seguida, em decorrência das limitações das ementas (seqüência lógica pouco clara, ambigüidade ou imprecisão dos conceitos utilizados). Os programas entretanto parecem buscar essa coerência, partindo sobretudo dos exercícios de projeto sugeridos nas ementas. Exemplos: Urb/Pais II - onde “projeto de organização espacial” foi interpretado como “intervenção em segmento da paisagem urbana”, Urb/Pais III - onde “anteprojeto em áreas de renovação urbana” foi interpretado como “proposição e desenho de espaços públicos de uso coletivo”. <br />
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As ementas das disciplinas de planejamento foram interpretadas diferentemente: o programa de Urb/Pais IV encaminha a elaboração de um projeto de configuração da paisagem urbana, tendo como base “os espaços públicos de uso coletivo” e “as tipologias arquitetônicas”; em Urb V o programa encaminha “proposições de intervenção em setor de atividade ou infraestrutura” na escala micro-regional (que inclui áreas urbanas e rurais), sugerindo portanto a formulação de políticas e projetos. <br />
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A seqüência dispõe das disciplinas introdutórias obedecendo a mesma estrutura teórico-prática, embora com ênfase no exercício da leitura e compreensão dos processos envolvidos na produção da paisagem natural e construída (conceitos básicos, escalas, modelos, morfologias, repertório). Introdução ao Projeto de Arq e Urb (1a fase) – percepção da evolução urbana, teorias urbanísticas, representação do espaço. Projeto Arquitetônico e Paisagismo I (2a fase) – ergonomia, ecologia. </p>
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Observações complementares</h3>
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A disciplina Teoria Urbana I (3a fase) é apenas teórica e sua ementa contempla problemáticas e políticas habitacionais e urbanísticas. Não dispomos do programa das disciplinas Teoria Urbana II (7a fase) e Teoria Urbana III (8a fase), mas as suas ementas pemitem destacar o estudo de teorias ligadas ao planejamento urbano e regional, cujo exercício teórico-prático é feito paralelamente nas disciplinas Urb/Pais IV e Urb V. <br />
A ementa e o programa da disciplina Sistemas Urbanos atribui-lhe caráter temático mais definido, definindo procedimentos de estudo teórico, abordando os aspectos conceituais e técnicos pertinentes às redes e sistemas e os efeitos de seu dessenvolvimento no espaço urbano, deixando de lado a abordagem das técnicas aplicadas às redes de infraestrutura urbana. Esta abordagem é mencionada de modo sumário ou indireto nas ementas das disciplinas de instalações prediais oferecidas pelo ECV, que estipulam entre outros conteúdos: em Conforto Ambiental – Térmico (4a fase) – “Ventilação natural a nível do ambiente urbano e edificado”; em Conforto Ambiental: Iluminação (5a fase) – “Fontes de luz e sistemas de iluminação”; em Conforto Ambiental: Acústica (7a fase) – “Acústica urbana e ruído comunitário” e “Controle de ruído e tratamento acústico de ambientes abertos e fechados”. <br />
Do mesmo modo que as disciplinas Urb/Pais III e Urb/Pais IV, as ementas das disciplinas Projeto Arquitetônico V (7a fase) e Projeto Arquitetônico VI (8a fase) abordam também o estudo de espaços de uso coletivo, embora encaminhando projetos arquitetônicos e não paisagísticos. </p>
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Proposições</h3>
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Interessa-nos interpretar as ementas estabelecendo a seqüência evolutiva dos programas de Urbanismo e Paisagismo, da 4a fase (Urb I) até a 8a fase (Urb V). Assim, propomos que as problemáticas sugeridas nas ementas e programas, consideradas como critério básico seqüencial constituam-se no elemento ordenador do conjunto, harmonizando-o e facilitando a organização dos planos de ensino. Assim, a ordenação sequencial das disciplinas ficará mais clara para os próprios estudantes, permitindo-lhes perceber também a correlação entre os conteúdos programáticos e a experiência projetual proposta em cada fase. <br />
Urb I – Relação do estudo da problemática da preservação do patrimônio construído com projetos de preservação e reciclagem; Urb/Pais II – Estudo da problemática da preservação ambiental (relação homem-natureza) com projeto de recuperação do patrimônio natural em áreas urbanas; Urb/Pais III <br />
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– Estudo da problemática da preservação ambiental e cultural com projetos de revitalização de espaços públicos de áreas centrais; Urb/Pais IV – Estudo da problemática dos sistemas urbanos com planejamento de um sistema de espaços públicos coletivos; Urb V – Estudo da problemática do desenvolvimento regional com proposição de estratégias de intervenção e projetos na escala micro-regional. <br />
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Devemos lembrar que maior liberdade de interpretação, definição de conteúdos e aplicação de práticas pedagógicas pode ser encontrada no uso e proposição de disciplinas optativas, conforme as especializações e interesses de cada professor. <br />
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Examinando as ementas e os programas pode-se verificar a existência de significados diversos atribuídos a termos como desenho, projeto, planejamento, plano, ambiente, setor, lugar, objeto, sugerindo a necessidade de esclarecer-se o significado quando de sua menção nos textos. <br />
Os programas das disciplinas Projeto Arquitetônico V (7a fase) e Projeto Arquitetônico VI (8a fase) deveriam ser avaliados no conjunto, pois abordam o mesmo objeto de Urb/Pais III e Urb/Pais IV (espaços públicos de uso coletivo), para que se possa esclarecer para os estudantes o referencial comum e as especificidades praticadas pelos professores, controlando também a repetição dos conteúdos. O mesmo devendo ocorrer com as disciplinas teóricas.<br />
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<strong><em>Texto encaminhado ao Núcleo de Urbanismo em 20-06-2003.</em></strong></p>
Fonte:Nelson Popini Vaz
Publicado em:30-09-2011 13:02:32